terça-feira, 9 de agosto de 2011

A questão da ciência política


Antônio Paim
No período recente, popularizou-se a expressão cientista político que, por sua vez, traduz o recohecimento de que existe a ciência política. Naturalmente, a pessoa que tenha um mínimo de familiariedade com a questão conhecerá a distinção entre ciência social e ciência da natureza, geralmente arrolada como “ciência exata”. Neste caso, as leis dizem respeito a processos que se repetem de forma determinada, enquanto, a rigor, no caso da vida social, pode-se falar de leis que traduzem tendências possíveis.
No Brasil, devido à longa sobrevivência de tradição positivista, nem sempre se leva em conta essa distinção. O positivismo de Comte –que chegou a ser espécie de marca registrada da Republica, claramente expressa na bandeira– a ignora solenemente. Em consequência, tornou-se muito difundida a crença –mesmo em meios acadêmicos– de que é possível prever, com exatidão, o que ocorrerá no plano social.
O desenvolvimento econômico dá-nos, todos os dias, demonstrações eloquentes da inconsistência desse tipo de crença. Se a economia fosse uma ciência exata, inexistiriam países pobres. Desde o último pós-guierra, o Banco Mundial despejou recursos imensos em diversos países asiáticos e africanos. Deu certo em número limitado de nações, a exemplo dos chamados “tigres asiáticos”, origem de vasta literatura para explicar essa diferenciação. A mudança social é mesmo um tema recorrente entre os estudiosos, convivendo diferentes hipóteses explicativas.
Em que pese a necesidade de qualificar o nosso entendimento do tema, a prática da ciência política ocidental trouxe resultados expressivos, como espero demonstrar oportuinamente.
*ANTONIO PAIM é filósofo, seguiu carreira universitária no Rio de Janeiro. Atualmente desenvolve atividades de pesquisa em universidades, no Brasil e em Portugal e preside o Conselho Acadêmico do Instituto de Humanidades.